quarta-feira, 16 de novembro de 2011

6 - MELHORAMENTO DE PASTAGENS DE SEQUEIRO



6.1. Conceitos e objectivos do melhoramento

O melhoramento de pastagens fundamenta-se num conceito mais abrangente de melhoramento por diversas vias tecnológicas e não tanto só no clássico conceito de melhoramento genético, embora a introdução de novo ou melhorado germoplasma possa e deva ser uma importante via do melhoramento mais geral.

Melhorar a quantidade e a qualidade das pastagens é hoje um desígnio da pecuária moderna, sucedânea dos ancestrais tempos de pastoreios livres em que era fácil escolher sempre as áreas de melhores pastagens naturais e desprezar as outras. Com a fixação dos rebanhos em áreas próprias e com os desejáveis acréscimos de encabeçamentos, surgiu a necessidade de melhorar as áreas de piores pastagens. Este tem sido, por assim dizer, o leit motiv de todo um campo da ciência agronómica, em torno das comunidades pratenses naturais, no sentido de as tornar mais produtivas e de melhor valor nutritivo.

Sendo uma área científica que persegue os mesmos objectivos finais em qualquer local do mundo (mais quantidade e mais qualidade), os resultados práticos têm sido diferentes consoante os ecossistemas em que se trabalha. Ou pelo menos têm conduzido a diferentes avanços na obtenção desses objectivos. São as características pedo-climáticas de cada região a dificultarem, mais ou menos, as desejáveis mudanças nas comunidades herbáceas naturais.

Mesmo que se disponha de iguais conhecimentos científicos de base, as aplicações e os resultados tecnológicos variam nos timings e na consistência dos efeitos. Ou seja, para o mesmo objectivo económico final, as tecnologias a empregar, as eficácias e os efeitos esperados no melhoramento de uma pastagem mediterrânea diferem das de uma pastagem atlântica ou das de uma pastagem tropical.

Como primeira definição, poder-se-á dizer que melhorar uma pastagem consiste em provocar alterações sustentáveis na sua composição florística natural, de modo a torná-la mais produtiva e de melhor qualidade. Alterações que são fáceis de provocar mas cuja persistência de efeitos é, na maioria das vezes, o mais difícil de se conseguir. É toda a dificuldade em manter um “desclimax” da flora herbácea, onde a mediterrânea, por razões naturais, não é das mais fáceis.

O melhoramento de pastagens, mediterrâneas ou outras, consiste, assim, em alterar ou “desequilibrar” más consorciações herbáceas, introduzindo ou fazendo prevalecer espécies de melhor valor forrageiro. Consiste em intervir, directa ou indirectamente, na flora herbácea, visando obter, a curto, médio ou longo prazo, uma flora de melhor qualidade.

O maior ou menor sucesso das “interferências” na flora herbácea natural depende de acções de melhoramento em dois tempos: primeiro na correcta e devida intervenção inicial dos factores de melhoramento (mais ou menos drásticos!) e em segundo na continuada e persistente acção desses e doutros factores, com grande destaque para a própria acção de pastoreio.

Se as actuações de primeiro tempo podem trazer rápidas respostas só com as segundas se consegue persistência e consistência de efeitos. Só estas últimas acções, ditas de “pressão de melhoramento” permitem ir mantendo uma pastagem melhorada. Logo que cessem, como a ausência de animais, p. ex., cessa o melhoramento e recomeça a “degradação” até ao clímax florístico inicial.

Em resumo, o melhoramento de pastagens, e em especial as mediterrâneas, não se faz mas, antes, vai-se fazendo ao longo dos anos da sua exploração, com muita pertinácia e determinação.


6.2. Níveis de intervenção e factores de melhoramento

O melhoramento de uma pastagem parte sempre, e antes de tudo, de um atempado e correcto diagnóstico da situação inicial em causa, incluindo todo o historial possível, escrito ou de memória. Isto mesmo se aplica às pastagens do Alentejo, com a quase obrigatoriedade de se fazer um diagnóstico in loco, na primavera, época de melhor caracterização da diversificada flora existente.

Porque, nesta região, a heterogeneidade pedológica e de fertilidade dos solos tende a ser maior que a climática, é aquela que mais vai influenciar a diferenciação florística do estrato herbáceo. Por isso, o mais usual é classificarem-se as pastagens, primeiro conforme o tipo de solos que as suportam, nomeadamente pedologia, acidez, profundidade e drenagem, e só depois, em zonas mais extensas, conforme os valores climáticos, nomeadamente pluviometrias e temperaturas. A classificação por altitudes não tem, obviamente, significado nas pastagens do Alentejo.

Por isso se entende melhor os significados práticos de pastagens de “solos de xisto”, de “solos esqueléticos”, de “solos graníticos”, de “solos de areia”, de “solos de barro”, de “solos calcários”, etc., do que de pastagens de “clima semiáridos”, ou de “clima sub-húmido”. Mesmo a tentativa de arrumá-las por pastagens de isoietas de 400, 500 ou 600 l/m2 de chuva anual, é pouco consistente no Alentejo, dadas as pequenas e irregulares variações de chuvas por toda a região não permitirem desenhar essas zonas com nitidez, mesmo em latitude.

Isto leva a que no diagnóstico local de uma pastagem, logo a seguir à flora existente e ao historial agrícola, o mais importante é a informação sobre o solo (colhendo ou não amostras) e só depois se procuram os registos climáticos mais próximos. Estes dão-nos valores históricos importantes, mas verificáveis ou não no ano de intervenção.

A seguir aos solos e ao clima do local, qualquer programa de melhoramento de pastagens define-se e decide-se sempre por três vias técnicas, depois de bem pré-avaliadas:

a)    Pelas mobilizações a fazer nos solos
b)   Pelos factores químicos e gérmicos a aplicar
c)    Pelas cargas animais e modos de pastoreio a praticar
   

As intervenções pela primeira via decidem-se após avaliação das florulas e características dos estratos arbustivos existentes; as intervenções pela segunda via decidem-se pela riqueza herbácea existente, pela análise dos solos e pela pluviometria expectável; e as intervenções pela última via decidem-se, se for necessário, pelas correções das cargas animais e modos de pastoreio existentes. É disto tudo que consta um levantamento completo da situação, necessário à tomada de decisões sobre as vias e os níveis de intervenção a fazer.

Sendo impossível de descrever, mesmo genericamente, os inúmeros diagnósticos das inúmeras situações que se podem encontrar, é sempre possível tipificar algumas situações existentes nas pastagens naturais alentejanas, de onde se tem de partir para diferentes intervenções de melhoramento. Assim, é comum constatarem-se as seguintes 6 situações de solos de pastagem, reunidas ou não no mesmo local:

- Solos de muito baixa MO e P2O5 (<2 % e <30 ppm, respectivamente);
- Solos pouco fundos e de má drenagem;
- Solos com abundante ou total cobertura arbustiva (>50% do solo);
- Solos com escassa cobertura herbácea (>80% solo nú);
- Solos com escassas ou nulas leguminosas (<10% da flora);
- Solos com poucas gramíneas e de má qualidade (<20% da flora)
 
Tudo isto configura situações a preconizar intervenções de melhoramento, por qualquer via, destinadas a incrementar a quantidade e a qualidade destas pastagens, necessárias a uma maior produção animal.

Intervenções que, em muitos casos, passam por grandes mobilizações de solos que é preciso saber interpretar nas suas consequências. Apesar de serem práticas ancestrais, há hoje muito mais conhecimento e consciência de que cada vez que se “mexe” no solo, estamos a empobrecê-lo agricolamente.


6. 2.1. Intensidades de mobilização de solos

As mobilizações em solos de pastagem, quando necessárias ao melhoramento, traduzem-se por gradagens, escarificações e sementeiras. São operações penalizadoras da estrutura e da fertilidade dos solos, nomeadamente da MO, e potenciadoras de grandes erosões superficiais no ano de intervenção. Por isso as “mexidas” nestes solos devem ser minimizadas de acordo com cada situação. Podem-se apontar 6 tipos usuais de intervenção, pela seguinte ordem decrescente de penalização dos solos:

1.      Gradagens fundas, de desmatação total
2.      Escarificações fundas, de “rompimento” de solos
3.      Gradagens, ou escarificações, de desmatação parcial
4.      Gradagens ligeiras, de preparação de camas
5.      Sementeiras por mobilização mínima
6.      Sementeiras directas, sem mobilização

É, uma vez mais, com base num correcto diagnóstico que se decide sobre até que nível de intervenção teremos de subir.

O nível 1 de intervenção aplica-se às áreas onde deixou de existir estrato herbáceo merecedor de pastoreio. As arbustivas fecharam-se por completo retirando luz, água, e nutrientes às herbáceas. Só o estrato arbóreo, se existir, vai competindo mas com dificuldades, visível pelos seus menores portes ou maus estados sanitários.

As arbustivas mais comuns nestes solos ácidos e de muito baixa MO são espécies de grande capacidade invasiva por via seminal, já referidas no Capítulo 1. De entre essas, dominam os Cistus ladanífera e C. salvifolius (estevas e sargaços), cuja erradicação não é eficaz, nem por queimadas, nem por arbusticidas nem por desmatações só da parte aérea. A desenraização por gradagem funda em época de solo seco é a via mais eficaz, fazendo-se anteceder, nas situações de matos velhos e densos, por desmatação-estilhagem com roça-matos.

Mas mesmo após estas radicais intervenções, a sua anulação não fica ainda definitiva, devido ao abundante banco de sementes duras, das diferentes espécies, que persistem no solo. São sementes que irão iniciar rapidamente o seu processo de germinação, paralelamente com as herbáceas, por quebras de dureza pós desmatação, devido a factores diversos, tais como: maiores temperaturas dos solos limpos, maiores profundidades de enterramento e maiores teores de humidade nesses solos.

No entanto, o controle destas jovens plantas arbustivas é agora bem mais fácil caso se cumpram outros factores do melhoramento como o das cargas animais adequadas, e o do enriquecimento do solo em MO por efeito das leguminosas.

O nível 2, das escarificações profundas, é hoje já pouco usado por razões económicas e mesmo por falta de sustentabilidade técnica. Consiste em “aprofundar” os solos mais delgados, também ditos esqueléticos, por meio de dispendiosos rompimentos mecânicos. Poderão associar-se logo às desmatações totais do primeiro nível ou efectuarem-se em solos nus, normalmente de escarpa, sobre rocha mãe em desagregação.

A sua eficácia é muito variável, quer quanto ao rompimento efectivo, para potências usuais em agricultura, quer quanto à utilização vegetal do solo “rompido”, que não significa “digerido”. Este será um fenómeno a muito mais longo prazo.Talvez na maior retenção de água poderá estar o seu único benefício imediato.

É da edafologia básica que, se estes solos persistem esqueléticos é porque se situam em locais de incipiente desagregação da rocha mãe, fruto de muito baixas precipitações alternando com altas temperaturas. Acresce que, se se situarem em declives, sofrem elevadas perdas erosivas dos poucos materiais formados, o que agrava as capacidades de retenção de água, não permitindo grandes acções hidromórficas. O ciclo negativo fecha-se, pela impossibilidade de se estabelecer, naturalmente, um coberto herbáceo, que atenue os efeitos dos factores anteriores.

Assim, onde já há algum solo, mais importante que ajudar pela ripagem a aprofundá-lo será criar-lhes condições para que ele se conserve, potenciando, naturalmente, as outras acções litomórficas. E a via técnica mais eficaz para essas condições é ajudando na implantação de um coberto vegetal herbáceo, ou seja, no estabelecimento de uma pastagem melhorada. Só ela mantém e “cria” solo, com mais estrutura e mais MO, logo com maior capacidade de retenção das poucas águas pluviais.

Em terrenos de forte pendente, são mais compensadoras valas de nível para retenção de água e de materiais carrejados, do que as escarificações de fundo. Deixemos às leguminosas o papel de irem, lentamente, aprofundando o solo.

Os níveis 3 e 4 de mobilizações são os mais usuais quando se decide renovar pastagens de raiz. São gradagens iguais às de outras culturas arvenses, destinadas a combater “focos” de arbustivas não muito velhas e a preparar o solo para uma sementeira total de novas espécies. Apesar de ainda muito penalizadoras da fertilidade dos solos, elas são necessárias para uma melhor e mais homogénea implantação das novas espécies. São também mais aceitáveis nas pastagens, dado não serem de prática anual mas sim, nos casos de sucesso, de intervalos de décadas.

Além da afectação na estrutura e MO do solo, estas gradagens outonais – que se devem reduzir a uma única, sempre que possível – vão ainda expor o solo a riscos de erosão superficial causada pelas chuvas de outono-inverno, desse ano. É um risco previsível, ainda que indeterminável, dado se desconhecer o regime de chuvas que acontecerá.

Sabe-se, obviamente, é que o nível de erosão sobe com a quantidade e intensidade da chuva nessa época. Anos de outonos secos são anos sem erosões, mas também anos menos bons para implantar pastagens. É, assim, preferível assistir-se a alguma erosão nessa época, do que a nenhuma.

Foi, precisamente, para diminuir ou mesmo anular os efeitos penalizantes das mobilizações e das erosões, que toda uma fitotecnia emergiu e evoluiu nos últimos anos e a que foi dado o nome de agricultura de conservação dos solos. São as aqui enunciadas nos níveis 5 e 6 das mobilizações. São as técnicas de sementeira de culturas arvenses, pratenses ou não, com mobilizações mínimas ou nulas dos respectivos solos.

Hoje, a mais expandida é a sementeira directa, sem qualquer mobilização, a não ser a da abertura dos pequenos sulcos para depor as sementes, seguida de compactação dos mesmos.

Apesar de ser uma área de investigação mais experimentada e aplicada às culturas anuais para grão, ela pode facilmente ser usada nas forragens e pastagens, onde a problemática do controle de infestantes não é tão determinante. Os problemas mais específicos nesta área terão a ver com as características dos solos de pastagens, as dimensões das sementes e as densidades de sementeira das misturas. Tudo questões que o aperfeiçoamento dos semeadores para esta técnica, vai resolvendo.

Sobre os solos de pastagens do Alentejo, a sua fenologia pode, genericamente, descrever-se como sendo de solos irregulares, pouco profundos, mal drenados, algo pedregosos, pouco lisos e com abundantes árvores, pedras e maciços rochosos. São, por isso, classificados, em termos de uso agrícola, como associações de solos das Classes C, D e E.

E quanto às sementes pratenses, gramíneas e leguminosas, elas caracterizam-se por serem muito miúdas (em regra, <8 g/1000 sementes) e de duas morfologias bem distintas: gramíneas em bastonetes pouco densos e leguminosas esféricas e mais densas. Mais adiante, voltaremos a este assunto.

São estas especificidades que podem introduzir algumas dificuldades na prática da sementeira directa de pastagens, nomeadamente na maior heterogeneidade de germinações. Daí que a técnica aconselhada para certos solos seja uma técnica mista, com gradagem de regularização seguida de sementeira directa. É, aliás, a possível nas situações onde se teve que desmatar previamente.

Refira-se que a sementeira sem mobilização tem sido, neste campo, uma técnica há muito preconizada no melhoramento florístico de pastagens, evitando-se a destruição das espécies existentes. Quando feita atempadamente, no Outono e na sazão dos solos (logo após as primeiras chuvas), é a mais económica e eficaz neste tipo de melhoramento. Menos gastos em sementes, preservação do fundo de fertilidade dos solos e não interrupção da produção herbácea nesse ano. Pode não ser é a de resposta mais rápida na melhoria da composição florística.

Mobilizações mais “suaves” que estas, para os solos de pastagem, só mesmo a clássica prática de espalhar as sementes, só ou em mistura com adubos de cobertura, sem as enterrar. Espera-se, aqui, que a humidade do solo e os pisoteios animais se adeqúem e conjuguem para introduzir estas novas sementes no solo, com alguma eficácia. É uma prática já antiga no melhoramento pascícola de vastas áreas de grasslands e rangelands, fazendo-se, nestes casos, o espalhamento por meios aéreos (36).




6.2.2. Factores de melhoramento de pastagens

Sobre os factores da via b) de melhoramento atrás referida, eles consistem na introdução de adubos e/ou sementes, de acordo com os diagnósticos químico do solo e florístico da pastagem existente.

6.2.2.1. Melhoramento pela adubação fosfatada

Atendendo ao tipo dominante das rochas mães e ao clima, os solos ácidos (pH<6,5) são os dominantes em toda a região, como se referiu no Capítulo I. Os solos Mediterrâneos Pardos, não calcários e os Litólicos, derivados de rochas eruptivas são pobres em bases de troca, nomeadamente em Ca e Mg, e ricos em sesquioxidos de Fe e Al, facilmente hidrolisáveis, libertando hidrogeniões. Também as curtas mas intensas quedas pluviométricas exercem uma acção acidificante nestes solos, quer pelo arrastamento das poucas bases solúveis quer pelo ácido carbónico que introduzem no solo substituindo bases, no complexo de adsorção, por hidrogeniões (13).

Por esta razão, não surpreendem as tentativas de correcção da acidez dos solos de pastagens pela aplicação de CaCO3 e MgCO3, que se fizeram em maior escala nos anos 60 e 70 do século passado. Foi o tempo das grandes calagens, através do espalhamento de toneladas de calcários moídos (calcíticos ou dolomíticos), produtos com pelo menos 85% de carbonatos.

A sua opção baseou-se no pressuposto, quimicamente certo, de que seria possível alterar significativamente o pH dos solos aplicando doses maciças destes sais correctores. Os valores mais usuais na altura, aconselhavam calagens iniciais de cerca de 5 t/ha de calcário, seguidas de outras, consoante o solo, nunca inferiores a 1 t/ha (programa Procalfer).

Este pressuposto, em poucos anos se revelou praticamente inconsequente e economicamente inviável. A génese ácida destes solos não desaparece por maiores que sejam as aplicações de cálcio, pelo que as pequenas subidas de pH após grandes aplicações de calcário tinham uma persistência quase efémera. Ao fim de 1-2 anos sem aplicação de correctivo tudo voltava ao inicial, já que as bases eram arrastadas ou complexadas. Esta via de melhoramento do solo viu-se, assim, reduzida quase só a campos de ensaios experimentais.

O melhoramento das pastagens continuou neste campo, mas pela via da introdução de espécies e variedades que mais se adaptassem a estes solos e não pela via contrária. A obtenção genética de variedades mais resistentes à acidez acabou por ser, e ainda é, a via científica na qual os melhoradores de pastagens continuam mais expectantes. E em particular sobre variedades de leguminosas.

Voltando aos dominantes solos oligotróficos da região, eles caracterizam-se, como já se referiu, por reduzidas bases de troca, com ênfase nos baixos teores de P, Ca e Mg disponíveis. Os silicatos e os sesquioxidos de Si, Al e Fe dominam no complexo de troca, indisponibilisando muitas das bases e alguns elementos principais. Destes elementos só o K se encontra geralmente em níveis altos, devido ao seu teor nos respectivos minerais das rochas-mães, nomeadamente feldspatos e mica. Mas apesar desta riqueza potencial, as plantas só o assimilam nas formas solúveis ou de adsorção coloidal, pelo que, mesmo para pastagens, é importante o conhecimento do K assimilável (37).

Com estas características químicas de solos, resultam maiores dificuldades de implantação e de persistência das leguminosas em geral e de melhores gramíneas em particular. As leguminosas são espécies exigentes em P, Ca e Mg, logo pouco tolerantes á acidez. As gramíneas mais produtivas exigem mais N, de síntese ou via MO, que é também muito baixa nestes solos (<2,0 %).

Por tudo isto, tentar incrementar estes elementos pelas adubações superfosfatadas e pela implantação de mais e melhores leguminosas, constituem factores base do melhoramento destas pastagens. Só as leguminosas, com a sua auto-suficiência azotada – via simbiose com as bactérias do género Rhizobium, captadoras de N2 livre – são capazes de mais rápidos enriquecimentos do solo, seja no teor de MO, seja em N no solo, seja na própria espessura e estrutura deste.

As adubações à base de superfosfato de cálcio, com ou sem micronutrientes são, assim e de há décadas, um dos factores de melhoramento das pastagens destes solos (46) e com mais viabilidade económica do que correcções com calcário (calagens). As mais persistentes complexações do fósforo com os iões de ferro e alumínio, permitindo libertar e disponibilizar outros iões para os complexos de troca, incluindo o próprio fósforo em excesso, têm resultado em melhorias significativas na flora herbácea em geral e nas leguminosas em particular.

Para isso são necessárias adubações significativas e ao longo de anos, consoante a situação inicial, até se atingirem valores de fósforo solúvel que possam influenciar na adsorção radicular. Fósforo este, que tenderá a estar sempre em perda seja por complexação seja por arrastamento para maiores profundidades.

Para diminuição destas perdas de fósforo solúvel e para maior economia de custos da fosfatação anual, o mercado dos adubos tem disponibilizado, já há alguns anos, fosfatos parcialmente insolúveis. Eles destinam-se a, por hidrólise, se irem “digerindo” lentamente no solo. São os chamados fosfatos naturais – os fosfatos de Gafsa são os mais conhecidos – permitindo, mais lentamente, irem libertando fósforo assimilável para as plantas.

E para além do fósforo, estes fosfatos naturais são também ricos em cálcio o que os torna ainda mais convenientes nestes solos. Por exemplo, um fosfato natural muito usado no mercado tem 26,5% de P2O5 totalmente insolúvel + 35% de CaO, recomendado, por isso, para as grandes adubações de fundo e de continuidade das nossas pastagens.


CÁLCULOS DE ADUBAÇÕES (FOSFATADAS)

Os cálculos de adubações, sendo matéria genérica a qualquer cultura, achou-se por bem recordá-los aqui para as pastagens, já que o melhorador deve socorrer-se deles, mesmo que com menor rigor do que os usados em culturas “mais ricas”. São operações simples e de procedimento muito semelhante para qualquer nutriente principal ou secundário. Só o azoto, pela sua importância e dinâmica no solo e na planta, obedece a cálculos mais específicos para cada situação cultural.

Recorde-se, então, para o caso do fósforo, os cálculos para determinar as quantidades de adubo fosfatado a aplicar numa pastagem, de modo a atingirem-se níveis teóricos, predeterminados, no respectivo solo.



Os parâmetros a saber à partida são quatro:

1 - Teor de P2O5 solúvel, existente no solo;
2 - Densidade aparente do solo seco;
3 - Teor de P2O5 solúvel, a atingir no solo;
4 - Espessura de solo que se pretende enriquecer;

Os dois primeiros são de análise laboratorial com o segundo a poder-se deduzir pela simples textura do solo em causa, conforme valores seguintes para solos com <2% de MO (13):

Solos arenosos: 1,5
Solos francos:   1,3
Solos argilosos:1,2       

Os dois últimos são de pré-definição técnica do melhorador, conforme o nível e a profundidade que pretenda atingir de imediato, nesse nutriente.

As profundidades de solo em que é economicamente aconselhável fazer enriquecimentos de fertilidade serão aquelas que suportam a maioria do raizame médio destas herbáceas. Menos para as gramíneas, mais para as leguminosas. Mas atendendo aos arrastamentos em profundidade não valerá a pena, pelos seus custos, tentar enriquecer de uma só vez grandes espessuras de solo, e em especial se ele ainda estiver em “formação”.

Como regra, entre 5 cm e 20 cm situam-se as profundidades a enriquecer, numa ou em sucessivas adubações anuais, dependendo do tipo de solo e das espécies dominantes da pastagem.

A expressão geral que dá a quantidade de um nutriente a aplicar, para se obter um dado teor no solo, é a seguinte:

Pa = (Pf - Pi) x DE               ou               Pf = Pi + Pa /DE

sendo, para o caso do fósforo :

Pa – quantidade de P2O5 de adubo, em kg/ha, a aplicar
Pf  – quantidade final de P2O5, em mg/kg (ppm) na espessura E
Pi  – quantidade inicial de P2O5, em mg/kg, na mesma espessura E
D  – densidade aparente do solo
E  – expessura de solo, em dm, a enriquecer


A quantidade total de adubo fosfatado a aplicar, em kg/ha, encontra-se, obviamente, pelo quociente

Adubo=Pa / % de fósforo no adubo

Se o fósforo do adubo estiver expresso em P então: P x 2,29 = P2O5


Como exemplo, suponhamos que se vão aplicar 500 kg/ha de Superfosfato de cálcio de 18%, numa pastagem de solos franco-arenosos (D=1,4), cuja análise, retirada a 15 cm de profundidade, revelou ter só 30 ppm (partes por milhão) de P2O5. O teor de fósforo, após a adubação e até esta profundidade, passaria então a ser, teoricamente, o seguinte,

Pf = 30 + 500 x 0,18/1,4 x 1,5

Pf = 72,86 ppm de P2O5

passando-se, assim, de um baixo para um médio teor de fósforo no solo, segundo a classificação mais usual. Resultaria também que nesta pastagem, por cada 100 kg de Super 18% aplicados, eventualmente em anos seguintes, haveria um aumento teórico de 8,57 ppm de P2O5. Teórico, porque na dinâmica dos nutrientes no solo, tal pode não se verificar na prática.

Num solo de pastagem, o fósforo (ou outro nutriente) vai-se repartindo, basicamente, por três fracções principais: extracções pela pastagem ingerida, arrastamentos em profundidade, e complexações químicas. Ao mesmo tempo, uma fracção está sendo devolvida ao solo pelos excrementos dos animais, embora muito descontinuamente espalhado. Toda esta dinâmica pode diferenciar bastante os valores teóricos esperados dos valores analisados numa amostra pontual do solo.

Por isso, fazer o balanço entre extracções e introduções de nutrientes num solo de pastagens, para decidir adubações, é uma tarefa lenta e irregular, que não se justifica nem se adapta a um calendário de acções de melhoramento. Após feitas as adubações de enriquecimento do solo, em um ou mais anos, bastará ir adubando para repor os nutrientes que vão saindo via pastagem ingerida e deixar os retornos via excrementos como uma mais valia que será tida em conta mas só ao fim de alguns anos do processo de melhoramento.

Às primeiras se chamam “adubações de fundo” e às segundas “adubações de manutenção”. Aquelas são de nível elevado e aplicam-se no início do melhoramento, estas são de mais baixo nível e devem-se aplicar anual ou bianualmente. Ambas deverão ser, para o nosso clima, de aplicação outonal.

Recorde-se como as adubações de manutenção podem ser de baixo nível, não tendo por isso de ser anuais, no caso do fósforo. Assim, p. ex., a uma ingestão real de 1.800 kg MS, ha-1, ano-1, de uma pastagem de sequeiro mista (gramíneas x leguminosas x outras) com 0,25% de P, corresponde uma extracção real de somente 10,31 kg/ha de P2O5. Bastaria, então, uma adubação fosfatada anual de 57 kg/ha de Super 18% (equiv. a 4,88 ppm de P2O5, em 15 cm de solo), para repor a extracção via pastagem ingerida sendo, então, mais económico aplicar ≈100 kg/ha de 2 em 2 anos. Isto sem contabilizar os retornos via excreções!

Mas como devemos precaver as perdas via infiltrações e complexações (dependendo do tipo de solo), as dose a aplicar deverão também ser um pouco maiores. As posteriores análises de solo indicarão se se deve aumentar ou diminuir as adubações de manutenção.

Uma regra prática para estes solos pobres em fósforo, poderá ser a de uma primeira adubação, de fundo, de modo a elevar o fósforo até aos 50 ppm (início do nível médio), continuando-se, nos anos seguintes, por adubações ditas de fundo + manutenção, da ordem dos 12 ppm/ano (≈150 kg/ha de Super 18%).

As adubações com fosfatos naturais poderão e deverão ter outros valores e serem menos repartidas, já que a “libertação” do fósforo se vai dando mais lentamente.

Os mesmos ou semelhantes raciocínios de cálculo que utilizamos para o fósforo poderão ser empregues para o K, caso a sua disponibilidade não esteja assegurada. Sobre outros elementos secundários, como Ca, Mg, S, Bo, a sua introdução nas pastagens é, obviamente, vantajosa, devendo fazer-se através dos adubos principais que já os contenham na sua fórmula química.


6.2.2.2. Melhoramento por introdução de sementes

A introdução de novas ou de melhores espécies nas pastagens tem sido, desde o início, uma via importante do seu melhoramento, tornando-se mesmo factor imprescindível na maioria das situações. O germoplasma de muitas espécies autóctones é de muito baixa produtividade e qualidade forrageira não possibilitando melhorias significas, só com o auxílio de adubações e pastoreios.


Introdução de leguminosas

A presença ou introdução de leguminosas numa pastagem em melhoramento é factor decisivo no reforço e consolidação dessa melhoria pretendida. Daí que o diagnóstico inicial sobre a presença e a percentagem destas espécies na flora seja fundamental para a decisão de introduzir ou não novas espécies ou variedades.

O ciclo do melhoramento de pastagens mediterrâneas pelas leguminosas, quando cessam as mobilizações, é, sucintamente, o seguinte:

Daí que um dos nossos mais conceituados e entusiasta especialista neste sector, David Crespo, como metáfora, atribua às leguminosas “a mesma importância para o prado que o motor tem para o automóvel, sem ele o carro não anda e sem elas o melhoramento das pastagens não se põe em marcha”.

Apesar da limitação dos solos, a riqueza de ecotipos de leguminosas continua elevada por toda a região. Só nas zonas de solos mais ácidos, erosionados e secos é que são mais raros ou podem não existir. Aqui, só alguns ecótipos de trevos precoces e de muito baixa qualidade vão subsistindo.

E isto, apesar das centenárias mondas (manuais e químicas) a que o homem tem recorrido para favorecer as gramíneas de cultura (os cereais).

De entre muitos outros, os 3 mais importantes géneros espontâneos destas pastagens, são o Trifolium (trevos), o Medicago (luzernas) e o Ornithopus (serradelas). É, por isso, em torno destas respectivas espécies, quase todas de ciclo anual, que têm decorrido, maioritariamente, os trabalhos de melhoramento pelas leguminosas.

Destes 3, os trevos são, em geral, os mais comuns e importantes, dada a sua maior “plasticidade” às diferentes condições ecológicas da região. Daí a grande quantidade de espécies que é possível identificar nestas pastagens.

Entre os mais representativos do sequeiro apontam-se as 8 espécies seguintes, genericamente indicadas por ordem decrescente de interesse pascícola:

- T. subterraneum,
- T. hirtum,
- T. glomeratum,
- T. cherleri,
- T. tomentosum,
- T. campestris
- T. angustifolium,
- T. stellatum,

São espécies, exceptuando o T. subterraneum, de baixos valores produtivos e nutritivos em geral, mas de elevada adaptabilidade ao meio ambiente. A sua presença é sempre importante no melhoramento, tendo ou não que serem enriquecidas com novas variedades ou espécies.

Qualquer que seja o caso, o teor de fósforo no solo continua a ser fundamental para o sucesso desta via de melhoramento. Só o fósforo vai criando melhores condições culturais a todas as leguminosas em geral. E só com melhores condições culturais se incrementa o banco de sementes no solo, factor de maior sustentabilidade destas espécies anuais.


Introdução do Trevo subterrâneo

Do lote de trevos atrás referido destaca-se o T. subterraneum (trevo subterrâneo) como a melhor espécie, desde há várias décadas, no melhoramento destas pastagens. Originário da bacia mediterrânea, não surpreende que tenha sido, pela sua adaptabilidade, o que mais contribuiu para o melhoramento das pastagens deste clima.

O sinal da sua importância veio do sul da Austrália através do agricultor A. Howard que, ao longo de vários anos, chamou a atenção dos investigadores para a importância deste trevo nas suas pastagens (44). A sua expansão começou nos anos 30/40 do século passado atingindo, na década de 70, uma área de cerca de 7 milhões de ha nesse continente, muito à custa de ecótipos levados do mediterrâneo, incluindo alguns de Portugal (11)

Os resultados do seu melhoramento e expansão na Austrália, conjuntamente com as adubações superfosfatadas, deram origem à chamada revolução pratense do SUB-SUPER nesse país, tal foi o acréscimo de produtividade conseguido não só nas pastagens como nas culturas subsequentes pelos acréscimos de fertilidade dos solos (47). Também por isso, este país continua a ser hoje o principal fornecedor mundial destas sementes. Quase todas as mais importantes e conhecidas variedades comerciais de trevo subterrâneo são ou de origem ou de multiplicação australiana.

Em Portugal, a partir dos anos 60 do século passado também se iniciaram técnicas de melhoramento das pastagens alentejanas, com introdução de variedades australianas de trevo subterrâneo. Para isso foram decisivos estágios na área das pastagens, feitos então por alguns colegas agrónomos naquele país, de onde regressaram plenos de entusiasmo nas potencialidades desta espécie.

Contudo, os seus trabalhos começaram com relativo sucesso por duas razões, segundo relatos pessoais de alguns deles: importação de variedades demasiado tardias para os nossos regimes de chuvas primaveris (como a cv. “Mount Baker”, p. ex.) e cargas animais baixas e em pastoreios pouco intensivos. Esta última razão ainda hoje perdura bastante, continuando a dificultar os programas de melhoramento.

Com as correcções que entretanto se foram fazendo – ensaiando-se variedades de ciclos mais curtos (precoces e semi-precoces), e demonstrando-se, ao agricultor, que maiores encabeçamentos e maiores intensidades de pastoreios facilitavam a sua implantação e persistência – foi-se consolidando a importância deste trevo também no melhoramento das nossas pastagens, ao longo dos últimos 30 anos do século passado.

Para isso muito contribuíram alguns trabalhos demonstrativos de David Crespo e da sua equipa (15), então responsável do Departamento de Forragens na Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP-INIA), em Elvas.

Foram ensaios pioneiros na demonstração das potencialidades deste trevo, nomeadamente nos altos encabeçamentos ovinos que permitia, apesar de não terem tido anos suficientes para enriquecer o solo de modo a consolidar a melhoria da flora herbácea, nomeadamente em gramíneas. Mas esta é uma impossibilidade temporal, inerente a qualquer projecto científico nesta área.

 Nas 41 variedades de trevo subterrâneo, certificáveis, registadas até final de 2005 (34), encontramos, para além de 32 australianas, só 2 de registo português (“Romel” e “Davel”) embora se saiba do muito material germoplásmico que foi levado do nosso país para melhoramento na Austrália. Na verdade, o nosso país é rico em bons ecótipos desta espécie, nomeadamente da ssp. brachycalycinum.

Mas razões de custos de multiplicação, destas e de muitas outras sementes, têm tornado aquele continente como produtor mundial imbatível. São as boas condições edafo-climáticas aliadas a empresas (e associações!) de escala, a imporem-se nos mercados globais. Mesmo para as nossas duas variedades, os seus detentores terão certamente que recorrer à Austrália caso as pretendam multiplicar e introduzir no mercado a preços competitivos. Comercialmente, serão cerca de 2 dezenas as variedades australianas de trevo subterrâneo, hoje mais usadas a nível mundial.

No Quadro 6.1. apresentam-se algumas características biológicas e agronómicas de um conjunto de variedades deste trevo, usadas no melhoramento destas pastagens. São características obtidas em clima do sudoeste australiano que, sendo embora mediterrâneo, é de invernos um pouco mais suaves que os do Alentejo (56). A maioria delas é bem conhecida de técnicos e investigadores desta área, dada a sua tradição no nosso mercado.

A precocidade deve ser a característica determinante da escolha a fazer, conforme o clima (chuva) do local mas relembrando que as mais precoces, sendo as mais seguras em termos de assegurarem produção de semente, são também as menos produtivas, pelo mais curtos períodos de pré-floração. A solução há muito que passa pela junção de variedades de ciclos diferentes na mesma mistura, prevenindo-se assim primaveras mais secas ou mais húmidas.  

Introdução de outros trevos

A introdução de outros trevos pratenses, conjugados ou não com os subterrâneos, não tem tido grande expansão por ausência de sementes comerciais doutras espécies. As excepções têm sido, praticamente, o T. hirtum (trevo rosa) e o T. incarnatum (trevo encarnado).

São trevos de função diferente nas pastagens, dadas as diferentes biologias de cada um. O trevo rosa introduz-se em complemento (ou mesmo substituição!) com os subterrâneos nas zonas mais secas e desfavoráveis (grande rusticidade), produzindo mais cedo mas também com mais rápida degradação nutritiva. Característica muito constatável nos inúmeros ecotipos da região.



Quadro 6.1. Características de 15 variedades de T. subterraneum, a maioria comercializadas em Portugal, com baixos teores de estrogéneos.
Variedade
(intervalo de chuva aconselhado)
Ciclo
vegetativo
Período de floração/sementes
Dureza de
semente
ssp. subterraneum
Dalkeith (375-425mm).
Daliak (375 - 425mm).
Seaton Park (425 - 700mm)
Enfield (450 - 750 mm
Woogenellup (450 - 750 mm
Bacchus Marsh(480– 500mm)
Mount Barker (550- 650mm)
Karridale (600 - 900 mm).
Denmark (600 - 900 mm).
Leura (600 - 900 mm).
ssp. yanninicum
Trikkala (450 + mm).
Larissa (500 + mm).
ssp. brachycalycinum
Rosedale (400-500 mm)
Clare (450-700mm).
Nuba (450-700mm).

precoce
precoce
precoce
semi-precoce
semi-precoce
semi-precoce
semi-tardio
semi-tardio
semi-tardio
tardio

precoce
semi-tardio

semi-precoce
semi-precoce
semi-precoce

fim Fev.-meio Abril
fim Fev.-meio Abril
iníc. Març-fim Abril
meio Març-iníc.Maio
meio Març-meio Maio
meio Març-meio Maio
fim Març-fim Maio
fim Març-fim Maio
fim Març-fim Maio
iníc. Abril-iníc. Junho

iníc. Març-iníc. Maio
iníc. Abril-iníc. Junh

Meio Març-meio Maio
fim Març-fim Maio
fim Març-fim Maio

dureza elevada
dureza elevada
dureza elevada
dureza baixa
dureza baixa
dureza baixa
dureza baixa
dureza baixa
dureza baixa
dureza baixa

dureza média
dureza média

dureza média
dureza média
dureza média
                                                                          Compilado de: http://www.pi.csiro.au/ahpc/legumes/legumes e http://www.agriculture.gov.au/index.cfm


O trevo encarnado, tal como as espécies que a seguir se referem, corre o risco de ser tida mais como espécies de iniciação, dada a sua possível menor persistência. É um trevo de porte bem erecto, com vistosas inflorescências terminais, logo muito afectado na produção de semente quando sujeito a pastoreios primaveris intensos. O seu bom crescimento outono-inverno permite que seja das primeiras leguminosas a darem pastoreio, mas que pensamos não compensar a baixa qualidade que manifesta após a floração. Produção reduzida nos anos secos. É um clássico das misturas mas que não tem reunido consensos quanto à sua mais-valia nestas pastagens.

Outras espécies de trevos erectos começaram, mais recentemente, a ser introduzidas nas misturas melhoradoras, associadas ou não aos trevos mais prostrados. Os mais utilizados têm sido variedades do T. michelianum (trevo balansa), do T. vesiculosum (trevo vesiculoso) e do T. squarrosum (trevo sequarroso). São trevos comuns do sudoeste europeu e médio oriente, também melhorados e multiplicados na Austrália.

A entrada destas 3 espécies no melhoramento das nossas pastagens fundamenta-se, para além de razões comerciais, nas suas diferentes características morfológicas e pascícolas face aos trevos subterrâneos. Situando-se, em termos de utilização pratense, próximos do clássico T. resupinatum (trevo da pérsia), eles são mais erectos, mas alguns menos nutritivos (5).

Caracterizam-se, muito genericamente, pelos seus portes elevados (40 – 100 cm), não só não se deixando ensombrar na primavera, mas até dominando todo o estrato herbáceo, como acontece com o trevo vesiculoso. De baixos crescimentos outono-inverno, “explodem” vegetativamente no começo da primavera. As suas elevadas produções de biomassa bruta concentram-se, por isso, no pico da erva, lançando abundantes e vistosas florações terminais, com grandes produções de semente.

Estas florações aéreas, tal como no trevo encarnado, são o seu ponto mais fraco face aos subterrâneos, já que as suas persistências por auto-sementeira estão todos os anos em risco, dependendo das intensidades de pastoreio praticadas nos períodos de floração. A melhor forma de lhes assegurar persistência passa por se aliviarem os pastoreios primaveris e sobrecarregarem-se os de agostadouro. Eles são, aliás, mais facilmente ingeridos nesta fase seca que os subterrâneos, embora com maiores quebras de qualidade, nomeadamente no trevo vesiculoso.

Uma outra vantagem destas espécies face aos mais prostrados, está na sua fácil condução como espécies de dupla aptidão (pastoreio e corte), permitindo fená-los ou ensilá-los com eficácia, caso haja excesso de erva; a sua continuidade na pastagem é que poderá ser drasticamente afectada ou terminar mesmo.

É ainda nesta complementaridade com os trevos mais prostrados, que variedades de sementes duras de T. resupinatum (trevo da pérsia) se têm também juntado a estes como melhoradoras das pastagens. Sendo também de floração aérea, têm portes semi-prostrados, ficando um pouco mais protegidas nos pastoreios de primavera, podendo resultar em maiores persistências ao longo dos anos.

De características agronómicas próximas das do trevo da pérsia é de referir ainda o recente T. glanduliferum (trevo glandelífero), de ciclo mais precoce e com moderada dureza de sementes e que ultimamente tem também entrado nas misturas melhoradoras.

Juntar trevos mais erectos e produtivos a trevos mais prostrados, mais persistentes e melhor adaptados ao pisoteio e ao revestimento dos solos, como os subterrâneos, é uma acertada solução técnica caso se consigam tempos de persistência daqueles suficientes para que não se fiquem como meras espécies de introdução ao melhoramento.

A ressementeira não natural destes trevos, sendo tecnicamente possível pela sementeira directa, poderá ser economicamente difícil de justificar. Por isso, é fundamental gerir bem os pastoreios face aos tempos e modos de floração de cada um deles, se quisermos que eles persistam.

Saliente-se, por fim, o novo visual cromático que estes trevos de floração aérea trouxeram às pastagens melhoradas do Alentejo, no período da primavera. Onde o verde era quase uniforme surgem agora pastagens bem tingidas de florações mais ou menos rosadas.



Introdução de outras leguminosas

Outras leguminosas espontâneas destas pastagens são as dos géneros Medicago, Ornithopus, Biserrula, e Scorpiurus. São herbáceas de ciclo anual, mais zonais, de bom valor forrageiro em geral, e bem adaptadas a este clima e a muitos destes solos.

Enquanto autóctones bem adaptadas são, obviamente, espécies a preservar, a favorecer pelas adubações fosfatadas ou a enriquecer com melhores variedades comerciais. Em especial o Medicago (luzernas anuais) nos solos menos ácidos e mais pesados e o Ornithopus (serradelas) e a Biserrula (bisserrulas) nos solos siliciosos mais ligeiros (arenosos) e húmidos.

De entre as mais vulgares nas pastagens de solos ácidos da região, destacamos as seguintes 6 espécies:

- Medicago polimorpha
- M. arabica
- M. murex
- M. truncatula
- Ornithopus compressus
- Biserrula pelecinus

Comparativamente aos trevos subterrâneos, estas leguminosas são, em geral, de maior crescimento outono-inverno, de portes semi-prostrados mais elevados, de semelhantes ou maiores produções e de melhores palatabilidades. Mas as suas maiores exigências edáficas e pluviométricas podem, em certas zonas e em alguns anos climáticos, não revelarem estas vantagens comparativas.

Sobre a introdução de espécies de Medicago (luzernas anuais) no melhoramento, a melhor orientação inicial virá de uma prospecção sobre a já existência ou não de ecótipos naturais, na pastagem a melhorar. A natureza dos solos (acidez e drenagem) é determinante, pelo que a sua não existência deve alertar-nos para as razões desse facto e para as possíveis dificuldades em lá persistirem outros com sucesso.

O M. polimorpha e o M. murex serão das menos exigentes em solos ou, pelo menos, mais tolerantes à acidez, pelo que são das mais expandidas na região (9). Mas o material mais introduzido tem sido variedades comerciais das espécies M. polimorpha, M. truncatula e M. scutellata.

A tendência para um maior grau de dispersão natural destas sementes relativamente às dos trevos (sementes em vagens helicoidais esféricas, bastantes aculeadas) leva a que surjam muitas vezes luzernas anuais em solos menos prováveis, embora com persistências imprevistas. Os chamados carrapiços (M. polimorpha) são dos mais dispersáveis dado o fácil transporte das suas vagens pelos animais, nomeadamente pelos lanígeros.

Imprevistas são também as produções anuais destas espécies já que dependem bastante da pluviosidade de cada ano. As variedades de M. scutellata, de portes mais erectos e de maiores limbos foliares, são das mais produtivas, mas também das menos tolerantes à acidez e das mais exigentes em precipitação anual. A semi-tardia variedade “Kelson”, a mais grada das luzernas comerciais, é o exemplo de uma delas.

Quanto às serradelas e bisserrulas são leguminosas de grande potencial no melhoramento destas pastagens, conjuntamente com trevos subterrâneos ou outros de maior porte. Pelo seu rápido crescimento outonal, competem bem com gramíneas e espontâneas, não se deixando ensombrar facilmente. A falta de chuvas outonais é o factor mais limitante do seu desenvolvimento anual.

O Ornithopus compressus (serradela de flor amarela) e, mais recentemente, a Biserrula pelecinus (erva-de-senra) tem sido o material genético de sementes duras mais introduzido, em misturas de melhoramento.


Introdução de gramíneas

O panorama das gramíneas destas pastagens, dominantemente de ciclo anual, caracteriza-se também por uma elevada riqueza taxonómica. É uma riqueza dominada, igualmente, por espécies de elevada precocidade, de pequeno a médio porte e, em geral, de baixos índices de área foliar (IAF) e de razão folhas/caules (F/C). Más características forrageiras que se acentuam nas espécies das zonas mais difíceis (solos mais delgados e com menos MO).

A riqueza bio diversa nas gramíneas é muito consequência da sua adaptabilidade a diferentes níveis de fertilidade (MO) dos solos. Enquanto a variabilidade ecológica das leguminosas vem mais por via pedológica a das gramíneas vem mais por via da fertilidade, nomeadamente dos níveis de carbono e de azoto no solo.

Entre muitas outras gramíneas, podem apontar-se os 8 géneros seguintes, da família Poaceae, tidos como dos mais importantes para estas pastagens, ainda que nem sempre os mais frequentes. Em condições normais, os 4 primeiros são habitualmente de ciclo anual e os 4 últimos de ciclo vivaz.
- Bromus
- Hordeum
- Lolium
- Poa
- Phalaris
- Agrostis
- Dactylis
- Cynodon

Recordando a “pobreza” generalizada em MO destes solos por hiper-mobilizações – excepto em locais de difícil acesso ou não agricultados – o normal é dominarem as espécies menos exigentes, de ciclo anual, com as vivazes mais circunscritas aos solos mais férteis e fundos, como são os de muitas áreas marginais.

Como o aumento da MO pela não mobilização é um processo muito lento, também a melhoria natural da flora de gramíneas passa pela mesma morosidade, que se pode estender por décadas. Por isso, tudo o que outros factores de melhoramento (para além da não mobilização) puderem fazer para encurtar este longo processo será sempre reconhecido, seja por quem iniciou o melhoramento seja por quem o “recebeu” e continuou. E as adubações fosfatadas + leguminosas são factores de primeira linha neste processo.
 
Deste lote de gramíneas de maior interesse, só praticamente 4 géneros têm sido objecto de melhoramento, através da introdução de variedades comerciais de maior produção e melhor qualidade. São variedades de Lolium rigidum (azevém rijo ou joio), Dactylis glomerata (panasco ou pé-de-galo) Phalaris aquática (falares ou carriço) e Bromus catharticus (bromo).

Ao contrário das leguminosas, as disponibilidades de sementes de gramíneas adaptáveis a solos (ainda) pobres são muito escassas no mercado, como será óbvio. A grande maioria das espécies multiplicadas destina-se a solos mais férteis, onde podem expressar as suas potencialidades forrageiras. Mais uma vez, é preciso esperar que as leguminosas ajudem a melhorar estes solos, para que se possa então partir para o estabelecimento sustentável de gramíneas mais produtivas.

Mas para já, as sementes das 4 espécies referidas cobrem todas as condições pedo-climáticas da região. As 2 primeiras para as zonas mais secas e as 2 últimas para zonas mais húmidas. O Azevém rijo (uma terrível infestante de cereais e outras culturas) e o Panasco (tida como a melhor gramínea vivaz para estas pastagens), têm classicamente dominado nas misturas com leguminosas. A confirmar a boa adaptação ecológica destas duas espécie está a sua disseminação natural por quase todas as áreas não agricultadas da região.

No caso do Azevém rijo, pelo seu cariz invasor e de difícil controlo, a sua semente tem sido excluída em muitos países, nomeadamente onde as pastagens se fazem “rodar”, temporariamente, com culturas de grão. Como esperamos que este não volte a ser o caso das nossas pastagens de sequeiro de montado, como já foram, a sua “infestação” pelo joio não será um perigo, mas antes um melhoramento.

No caso do Panasco, bastam alguns anos de não mobilização do solo para que as suas características toiças comecem a ressaltar na pastagem. Nos montados, é sob as copas das árvores e mais junto aos troncos – locais pouco ou nada mobilizados, – que mais vulgarmente se encontram. 

Mas apesar da adaptação ecológica destas duas espécies, o sucesso das suas persistências, quando inicialmente introduzidas, nem sempre é fácil. O azevém rijo pela necessidade de produzir semente viável logo a partir do primeiro ano, para se auto ressemear (enquanto o banco de sementes no solo não se fortalecer!) e o Panasco pela sua lenta implantação, correndo muitos riscos nos solos mais delgados e secos até fortalecer toiças que lhe permita passar o verão em dormência total, sem morrer.

Em geral, as dificuldades de implantação e de persistência de todas estas gramíneas pratenses crescem nos solos limpos (sem coberto arbóreo), delgados e de mais baixa pluviosidade, e em especial nas vivazes como o Panasco ou a Falares.

Ou seja, as dificuldades crescem com a pobreza inicial dos respectivos solos, o que é normal. Mas se implantadas com sucesso, estas gramíneas podem mais rapidamente contribuir para significativos acréscimos de produção e de qualidade destas pastagens, com destaque para a fase inicial do ciclo anual da erva.

Por isso, como sintética conclusão, pode-se dizer que melhorar pastagens, no Alentejo, consiste em melhorar solos, e vice-versa. Processos lentos para os quais se pede, para além de investimento, muita determinação e persistência.

CÁLCULOS DE SEMENTEIRA DE PASTAGENS

Embora a densidade de sementeira (kg de semente/ha) seja o parâmetro fitotécnico mais usado e mais facilmente entendido em qualquer cultura, valerá a pena recordar aqui os seus cálculos para as especificidades das pastagens.

No caso das espécies pratenses, vivazes ou de auto-sementeira, este parâmetro deve ser entendido como o resultado dos povoamentos pretendidos, em especial para o 1º. ano de implantação. São sementes miúdas ou mesmo muito miúdas, cujas densidades resultantes são muito diferentes das habituais em sementes gradas.

Os povoamentos, expressos pelo nº. de plantas emergidas/m2, são decididos, nas pastagens, pelas características das espécies, pelas condições edafo-climáticas, pela técnica de sementeira e, em último caso, pelos preços das respectivas sementes. A potencial capacidade de expansão da espécie, nos anos seguintes à implantação, é dos mais determinantes.

No caso das espécies vivazes, os povoamentos de 1º. ano são muito importantes já que eles tenderão a permanecer (ou a diminuir!) nos anos seguintes, só se adensando por efeito de afilhamentos em toiça.Também alguns pequenos aumentos de população podem ir acontecendo com os anos, caso as intensidades de pastoreio primaveril sejam baixas permitindo a formação e deiscência de algumas sementes destas espécies.  

No caso das espécies anuais o primeiro povoamento também é importante na ocupação e combate às infestantes locais, embora pouco possa determinar os povoamentos dos anos seguintes, já que estes dependem da quantidade e dureza da semente formada e emergida, em cada ano. Daí que a produção de semente no primeiro ano seja tão importante para se iniciar o “banco” de sementes do solo, fundamental para os anos seguintes.

Sendo o preço das sementes um importante factor de custo do melhoramento, é natural que se pretenda iniciar o seu estabelecimento com baixos níveis populacionais, confiando no seu adensamento posterior de uma forma natural e mais económica. Os maiores riscos dos baixos povoamentos iniciais estarão nas falhas técnicas de sementeira, nas falências por razões climáticas e nas maiores dificuldades de luta contra infestantes.

Em pastagens de 1º. ano é usual classificarem-se os povoamentos nos 3 níveis seguintes:

- Povoamentos altos:           > 400 plantas/m2            (<25 cm2/planta)
- Povoamentos médios:       200 – 400 plantas/m2     (25-50 cm2/planta)
- Povoamentos baixos:        < 200 plantas/m2            (>50 cm2/planta)

O primeiro usa-se mais para pastagens de vivazes em regadio, com poucas espécies ou, por vezes, em monocultura, onde é preciso criar um rápido e denso tapete. Pelo contrário, o terceiro nível reserva-se para situações de enriquecimento parcial das pastagens naturais, muitas vezes só com leguminosas e praticando sementeira de não mobilização do solo. Os níveis intermédios (200-400 plantas/m2) são os mais usados nos diversos melhoramentos das pastagens de sequeiro.

 Sobre as características das sementes pratenses, elas variam com as espécies (ou variedades) e com a qualificação comercial da semente quanto a germinação e pureza (grau de selecção das sementes).

Os valores dos 4 parâmetros que usualmente acompanham, ou devem acompanhar, os lotes de sementes comerciais seleccionadas para pastagens, situam-se nos seguintes intervalos:

- Peso de 1.000 sementes limpas .................................................. 0,5 – 20 gr
- Taxa de dureza inicial (à data da limpeza) .................................. 40 – 90%    
- Taxa de germinação total (dormentes, duras e não duras) .......... 80 – 100%
- Taxa de impurezas (partículas e sementes infestantes) ...............   0 – 5%

Destes parâmetros, o primeiro é o que mais vai influenciar a densidade de sementeira a praticar, pois tem a ver com a dimensão das sementes de cada espécie, apesar de todas serem consideradas sementes miúdas.

A razão de ser da taxa de dureza inicial é porque ela pode ir diminuindo até que chegue ao agricultor, nomeadamente por variações térmicas em transportes e armazéns. Mas o conhecimento do seu valor real é, obviamente, importante para a persistência da espécie, justificando corrigir-se a densidade para manter o povoamento inicial. A taxa de impurezas classifica, inversamente, a taxa de pureza ou de limpeza de cada lote de semente, ou seja, as taxas de pureza situar-se-ão entre 95% - 100%.

Para se ter uma ideia da granulometria das sementes de pastagens apresenta-se, no Quadro 6.2, uma gama dos seus pesos, para as mais usuais espécies utilizadas no melhoramento.

É com base no conhecimento destes parâmetros e nos povoamentos desejáveis, que se calcula então a densidade de sementeira de cada espécie ou variedade, no ano da implantação. A fórmula geral é do tipo

D =(P x S) /( G x L x 100 )
sendo
D = densidade (kg de semente/ha)
P = povoamento pretendido (nº. plantas/m2)
S = peso de 1000 sementes (g)
G = taxa de germinação total, incluindo sementes duras
L = taxa de limpeza (pureza) da semente



Quadro 6.2. Gama de valores de peso de 1000 sementes limpas,
das principais espécies pratenses.

Espécies de sementes miúdas,
por ordem crescente de dimensões
Intervalos de peso
de 1000 sementes (g)
Gramíneas
Dactylis glomerata
 Phalaris aquatica
Lolium sp.
Festuca arundinácea
Bromus catharticus
Avena strigosa
Leguminosas
Trifolium sp. (floração aérea)
Medicago sativa
Medicago sp. (anuais)
Ornithopus sp.
Trifolium subterraneum
M. scutellata, cv. Kelson

0,8 – 1,4
1.0 – 1,2
1,8 – 2,0
2,0 – 2,2
  8,0 – 10,0
14,0 – 16,0

0,8 – 2,0
2,0 – 2,5
2,0 – 6,0
2,8 – 5,8
6,0 – 10,0
18,0 – 20,0
Valores determinados pessoalmente

Assim, para se obter, p. ex., um povoamento de 150 plantas /m2 de Dactylis glomerata no primeiro ano, utilizando uma semente que pesa 1,0 gramas/1000 sementes e tem 90% de germinação total e 95% de pureza, bastará semear a seguinte densidade:

(150 x 1,0) / (0,9 x 0,95 x 100) = 1,75 kg/ha

No caso de a espécie ter sementes duras em percentagem conhecida e se pretender um mesmo povoamento imediato, ter-se-á que introduzir o valor da taxa de sementes não duras no denominador da fracção. Se esta gramínea tiver, p. ex., 40% de sementes duras, então o valor da densidade de sementeira deverá ser o seguinte, para se conseguir o mesmo povoamento inicial:

(150 x 1,0) / (0,9 x 0,95 x 0,6 x 100) = 2,92 kg/ha

De igual modo, qualquer outra taxa previsível de perdas de campo até à germinação, (devido a formigas, aves, deficiências de sementeira, etc.) pode ser corrigida nesta mesma fórmula, introduzindo mais uma taxa previsível de não perdas, em denominador. Se, p. ex., se previrem perdas de campo globais de 5% na sementeira desta espécie, o valor da densidade deverá subir para:

(150 x 1,0) / (0,9 x 0,95 x 0,6 x 0,95 x 100) = 3,08 kg/ha

Fazendo-se contas idênticas para as outras espécies que entrem na mistura, obtêm-se a densidade de cada uma, sendo o somatório a densidade total de sementes a aplicar.

A população total a obter no primeiro ano é, assim, formada pelas populações parciais de cada espécie ou variedade, nas proporções julgadas mais convenientes. Em regra, devem-se enriquecer mais as populações de vivazes, se as houver, e menos as anuais, pois como já se referiu, estas deverão subir a partir das sementes próprias formadas nos anos seguintes.

Sobre a proporção entre populações de gramíneas e leguminosas, a estabelecer no primeiro ano, tudo dependerá dos modos de propagação (vivazes ou anuais) e do conhecimento das espécies (e variedades) em causa, quanto à sua previsível adaptação às condições edafo-climáticas do local.

Os clássicos valores percentuais de 50/50, 60/40 ou 40/60, entre populações de gramíneas e leguminosas (não entre densidades de sementes!) significam um aceitável compromisso inicial, que pode alterar-se completamente logo a partir do 2º. ano. De recordar, é que se devem sempre favorecer as leguminosas, dada a sua importância no melhoramento global da pastagem; e tanto mais quanto mais “pobres” forem as condições de solo e de clima.

Sobre as densidades de sementes de leguminosas convém ainda lembrar que se calculam pela mesma fórmula geral atrás expressa, mas enquanto sementes não inoculadas. Logo que se procede à pelletização para incorporar estirpes de Rhizobium mais eficazes na captação de N2 livre, incrementa-se o peso das sementes devido, fundamentalmente, à película de calcário aplicada na protecção do inoculo a revestir cada grão.

Consoante esta técnica for de maior ou menor consistência (mais ou menos calcário envolvente) assim se eleva mais ou menos o peso da semente. O valor deste acréscimo situa-se habitualmente entre os 10 e os 30%, o qual deve estar para além do peso previamente calculado para a densidade de sementeira, com sementes nuas.

Em conclusão, as densidades de sementeira destas misturas, para níveis de populações no intervalo médio (200-400 plantas/m2), para sementes de dimensões mais usuais (1-8 g/1000) e para um coeficiente de correcção total de 80% (germinação + pureza + perdas de campo) podem assim variar tanto como de 2,5 kg a 40,0 kg/ha. Pelas suas dimensões, são os trevos subterrâneos e algumas luzernas anuais os que mais fazem subir estas densidades. Isto quando não se introduzem espécies de “iniciação”, de sementes gradas, de que a seguir se trata.


As Forragens de “Iniciação” às Pastagens

Quaisquer que sejam as espécies a introduzir num melhoramento, se este passar pela implantação “de raiz” de uma nova pastagem, é de prever quebra de produção na primeira fase do ciclo da erva, no ano da implantação.

As espontâneas, anuais e vivazes, boas e más, são anuladas recomeçando todas, os seus ciclos, conjuntamente com as espécies semeadas. Esta normalização de germinações tem vantagens e tem riscos. As vantagens advêm de uma mais contida agressividade inicial das espontâneas para com as semeadas; os riscos advêm dos imponderáveis climáticos (pluviométricos) desse ano, que podem limitar toda a produção herbácea.

As maiores quebras de produção dar-se-ão quando estas acções coincidem com Outonos secos e/ou quando implantadas tardiamente (fins de Out.-Nov.). São condições mais difíceis para a implantação das novas espécies, em competição com a dominante flora autóctone, mais bem adaptada a estas adversidades.

Mas se o regime de chuvas é imprevisível, o período da sementeira não tem que ser. Este deve planear-se para que se proceda o mais cedo possível, antes mesmo do início das chuvas (Setembro), aumentando a probabilidade de aproveitamento destas, desde o início. Também a competição com as espontâneas parte ao mesmo tempo, como é desejável.

Há muito que a vantagem de semear no cedo neste clima, especialmente as forragens, é bem conhecida do agricultor, embora nem sempre seguida. De todos é conhecido o velho aforismo popular “semeia-me no pó e de mim não tenhas dó”! Só que a disponibilidade atempada dos factores culturais e a determinação, falham na maioria dos agricultores.

Mas mesmo com sementeira atempada das pastagens é conveniente prevenir as faltas de erva no ano de implantação, facto que provoca grande desânimo no agricultor ou até arrependimento em ter investido nas pastagens. Por isso, uma técnica bem conhecida é juntar-se à mistura de sementes uma ou mais espécies de rápida implantação, ditas, por isso de “iniciação”.

Usam-se, normalmente, gramíneas forrageiras anuais de rápido crescimento, em média densidade populacional (±250 plantas/m2), substituindo as lentas implantações das espécies pratenses, nomeadamente das vivazes. É a chamada técnica de implantação de “pastagens-sob-forragens”, que alguns apoios da PAC aos cereais secundários ajudaram indirectamente a fomentar.

Isto permite, nos anos de chuva outonal normal, colocar os animais na nova pastagem logo durante o inverno seguinte. São pastoreios de oportunidade, como todos os desta época, necessários para irem desensombrando e desadensando as mais baixas espécies pratenses.

No ano seguinte, poderão ou não existir ainda algumas destas espécies, mas já pouco se contam com elas. As mais utilizadas têm sido cereais secundários de linha forrageira, como algumas aveias, cevadas ou triticais, a que se seguiram, mais recentemente, variedades precoces de Lolium multiflorum (azevém anual) ou de Avena strigosa (aveia preta), para os solos mais pobres.


 6.2.2.3. Melhoramento pelo pastoreio

Esta última via de melhoramento, podendo parecer a menos importante ou eficaz, tal não o é. Ela deve ser indissociável de qualquer programa, quer se pratique isoladamente quer em associação com as outras vias de melhoramento. Sem a presença de animais, ou com estes mas em encabeçamentos desapropriados, não faz sentido desenvolver programas de melhoramento. Parece óbvio que as pastagens se melhoram para produzir mais e melhor alimento, mas destinado unicamente a sustentar mais e melhores animais.

Os necessários acréscimos de encabeçamento terão assim de estar assegurados, logo que os acréscimos de biomassa dos prados melhorados vão sendo evidente. Se não for no 1º. ano terá de ser logo nos anos seguintes, salvo se acontecerem anormalidades climáticas. A erva avalia-se mas não se contempla; os animais sim podem ser contemplados!

Mas isto, que parece tão simples e evidente, também nem sempre é fácil de cumprir na prática das explorações, pois os acréscimos dos rebanhos, nomeadamente dos grandes reprodutores, são mais lentos que os acréscimos de produção de erva, caso não se façam aquisições de animais no exterior.

Mas outra razão para a crónica falta de animais na pastagem prende-se com o agricultor não acreditar, a priori, numa melhoria significativa da erva. É a sua natural desconfiança sobre a eficácia dos factores de melhoramento em pastagens de sequeiro, onde o clima é determinante em cada ano. Assim, só perante disponibilidades evidentes de erva é que se decide a ir aumentando o rebanho. E conhecendo bem o clima, ele até terá razões para este cepticismo. Só que estas reticências, ou prudências, além de não ajudarem ao melhoramento, antes o dificultam.

E se a decisão de aumentar o encabeçamento tem estas dificuldades, outra surge, com frequência nas explorações mais extensivas, mas também fundamental para o melhoramento. É a necessidade de aumentar o afolhamento das pastagens, repartindo as tradicionalmente grandes áreas em folhas mais pequenas. É uma decisão de investimento fundiário, com custos financeiros, que o agricultor mais tradicional não vê razões justificativas.

Mas como se referiu no Capítulo 4, sem uma adequada rede de parques (folhas) não se podem incrementar as cargas instantâneas, e logo as intensidades e pressões de pastoreio. E só com maiores pressões se podem controlar as “más ervas”, desensombrar as leguminosas e pastorear bem os pastos secos. Tudo acções decisivas para consolidar os melhoramentos florísticos pretendidos, nomeadamente consolidarem as leguminosas na pastagem.

Assim, toda esta importante via do melhoramento, passa por se prever, desde o início, quais as cargas animais e os modos e parâmetros de pastoreio que se terão de praticar, ao longos dos anos e nas diferentes épocas de cada ano. Fazê-las cumprir, ou não, pode encerrar todo o sucesso ou insucesso do programa de melhoria das pastagens.

Sendo o acréscimo de encabeçamento o principal objectivo económico a atingir, justificativo do investimento, parecem incongruentes estas dificuldades com que o melhorador tantas vezes se debate. Nalguns casos, é preciso mesmo uma incisiva acção pedagógica junto do agricultor antes de se iniciar o processo. É preciso não restarem dúvidas de que os animais são parte obrigatória das acções de melhoramento. Eles são causa e efeito desse melhoramento.

Ao agricultor céptico que diz não valer a pena ter mais animais se “não há pastagens”, retorquirá sempre o melhorador dizendo não valer a pena melhorar pastagens se “não há animais”.


Sintetizando tudo o que se disse sobre os fundamentos do melhoramento destas pastagens, em solos predominantemente ácidos, ele deverá incidir em quatro campos, sensivelmente pela seguinte ordem de efeito melhorador:

1º - Enriquecimento químico do solo em P, S, Ca e Mg (superfosf. de Ca + Mg)
2º - Enriquecimento florístico em leguminosas anuais
3º - Aumento dos encabeçamentos e das cargas instantâneas.
4º - Enriquecimento florístico em gramíneas anuais e vivazes

Como orientação pedagógica e técnica, arriscámos apresentar no Quadro 6.3 quatro situações típicas de pastagens do montado e as respectivas acções de melhoramento mais usualmente preconizadas para cada situação. São meras indicações orientativas, que não têm em conta o tipo e análise dos solos, nem o clima de cada local.


A PAC actual e o futuro do melhoramento das pastagens

Uma última palavra para lembrar, depois do que dissemos sobre melhoramento de pastagens, que está em implementação uma nova Política Agrícola Comum com implicações potencialmente negativas no melhoramento destas e doutras pastagens. As novas regras comunitárias são no sentido das boas práticas agrícolas, favorecendo, nesta área, a manutenção de pousios e pastagens naturais, ou seja, a preservação ambiental.

Com a aprovação do novo Regulamento (1782/2003), desligando ajudas aos agricultores das produções agrícolas, introduziram-se condicionantes agro-ambientais a que estes ficam sujeitos para terem direito a esses pagamentos históricos. Com elas se pretende também evitar o “abandono” completo das terras e a alteração do facies agrícola de cada região.

Uma dessas boas práticas agrícolas e ambientais (Artº. 5º. do citado Regulamento), visa proteger os solos da erosão, enriquecê-los em MO, melhorar a sua estrutura e utilizá-los a um nível mínimo de manutenção. Aí se contempla “a defesa de taxas mínimas de encabeçamento, a defesa da manutenção das pastagens permanentes e a prevenção da invasão das terras agrícolas por vegetação indesejável”.

Pensamos que, sendo evidentes as boas intenções ecológicas da legislação, ela poderá conduzir, na prática, a grandes abandonos das pastagens em geral e das alentejanas em particular já que isso se “encaixa” no espírito da lei. Para manter encabeçamentos mais que mínimos bastam as pastagens naturais. E mantê-las limpas de arbustivas será uma questão de roçagens temporárias, como já se pratica há muitos anos.

E tudo isto poderá acontecer mais rapidamente, logo que se desliguem totalmente as ajudas da produção animal, no nosso país. Ou seja, logo que o objectivo económico da produção deixar de ser prioritário.

Mas isto é tão só uma suposição pessoal!



Quadro 6. 3. Síntese dos procedimentos técnicos mais aconselháveis para o melhoramento de pastagens do Alentejo, em quatro situações tipo.
Situação florística
inicial
Mobilizações do solo
(gradagens e sementeiras)
Adubações anuais de Outono (kg/ha)
Povoamentos
(leg./gram.)
Intensidadesa de pastoreio

A. Solo sem pastagem, densamente coberto por arbustivas velhas
           (cistáceas)

Desmatação total
+
Mobilização funda total
+
Mobilizaç. mínima total
1º. Ano: 100-120 kg  P2O5 (superfosfato Ca) + 40-50 kg de K2O + 6-8 kg de MgO e B.
Anos seguintes:30-50 kg P2O5 + 4-5 kg MgO.

400 plantas/m2

80% leguminosas
20% gramíneas

1º. Ano: Moderada intensidade, de meados ao fim da primavera.
Anos seguintes: Intensidades adequadas a cada época (crescentes do outono ao verão), c/ reservas  p/ agostadoi.

B. Pastagem parcialmente infestada por arbustivas e sem leguminosas

Mobilização funda parcial (localizada)
+
Mobilização mínima total
1º. Ano: 80-100 kg P2O5 (superfosfato Ca) +
40-50 kg K2O + 6-8 kg MgO e B.
Anos seguintes:30-50 kg P2O5 + 4-5 kg MgO.

300 plantas/m2

70% leguminosas
30% gramíneas


Idem

C. Pastagem limpa, rala e sem leguminosas


Mobilização mínima total

1º. Ano: 80-100 kg P2O5 (superfosfato Ca) +
K2O (se necessário) + 6-8 kg MgO e B.
Anos seguintes:30-50 kg P2O5 + 4-5 kg MgO.

200 plantas/m2

70% leguminosas
30% gramíneas


Idem

D. Pastagem limpa, densa e com algumas leguminosas em manchas

Mobilização mínima parcial (localizada às áreas sem leguminosas)
1º. Ano: 80-90 kg P2O5 (superfosfato Ca) +
K2O (se necessário) +
4-5 kg MgO e B.
Anos seguintes:30-50 kg P2O5 + 4-5 kg MgO

150 plantas/m2

100% leguminosas



Idem
                                                                                                                                                              a animais/ha x tempo de pastoreio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário